segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Bipolaridade

Em casa tenho guardado uma carta. Na verdade mais de uma. Mas elas não chegaram pra mim. Na verdade elas nunca foram. São cartas que escrevi e nunca tive coragem de enviar. Talvez falta de coragem não seja bem o verdadeiro motivo de elas nunca terem saído de meu quarto.

Acontece que o ânimo e o surto de amor que me envolve enquanto escrevo nunca é tão prolongado a ponto de perdurar até os correios. Ademais, elas não duram até a última linha. Por isso todas essas cartas estão inacabadas.

Ontem mesmo, estava eu em meu quarto escrevendo a quem supostamente amo. Escrevi que ela me faz suportar a vida; que só chego inteiro ao fim do dia por ter seus cuidados; que a emoção que tenho ao vê-la continua sendo o mesmo após um ano; que adoro quando me chama de “meu”; e que respondo a ela sozinho, em voz baixa, imaginando que onde quer que esteja me ouvirá; agradeci por ela; e estava maldizendo cada momento nosso de despedida, quando então, um súbito desânimo tomou-me a paixão e mais uma carta, mais um e-mail, mais uma frase ficou pela metade. Palavras que fariam tanta diferença a ela quanto as cartas que ela manda fazem a mim. E de certa maneira me sinto mal por não prover a ela o que eu poderia tão facilmente.

Acontece que esse desânimo repentino não é nada mais do que a consciência de que ela não merece meu amor. É essa sensação que vem à tona a cada falha exposta sua; a cada passo em falso da namorada; a cada lembrança de uma mágoa antiga.

No entanto, devo ter em mente que nenhum ser humano merece o amor. É justamente por isso que Deus é cheio de benignidade IMERECIDA, de misericórdia. O amor é bom demais para essa raça.

Talvez um dia eu assimile essa realidade e possa admitir que o amor perfeito qual eu desejei durante a vida não existe e possa aceitar uma relação superficial e infiel. Só não sei que utilidade prática me trará tal situação.

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